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O comércio dos fariseus

O comércio dos fariseus

Ennio Dinucci….

Os versículos 13 a 25, do segundo capítulo do Evangelho de João, referem-se a este nível psicológico inferior que poderia ser definido como “Mercadologia Interna”, responsável pelo mau emprego dos ensinos superiores, comprovando praticamente que a realidade exterior será sempre a projeção de um estado de alma positivo ou negativo, quer seja individual ou coletivo.

A mentalidade farisáica de todos os tempos sempre se sentiu tentada a mercadejar as coisas sagradas, em proveito próprio ou de grupos organizados, dissimulados por uma fé hipócrita e sensacionalista, que emprega a astúcia como principal meio para atrair as massas populares.

Na atual época, especialmente, é comum a organização de poderosas empresas religiosas e filosóficas, em franca concorrência umas com as outras na exploração vergonhosa da credulidade pública. Jesus, a Bíblia, os Evangelhos e as tradições ocultas mais sagradas são empregados abusivamente pelos empresários religiosos, como propaganda sugestiva que sempre produz efeitos favoráveis, proporcionando um rápido e vantajoso retorno financeiro.

Observe-se, como exemplo, o império religioso que foi construído na cidade de “Aparecida do Norte”, e a quantidade de dinheiro que é recolhido pela igreja católica nas festividades dedicadas a “padroeira do Brasil”. A São Judas Tadeu foi dedicado o dia 28 de cada mês, em que sua igreja localizada no bairro do Jabaquara permanece lotada durante todo o dia. Tudo isto, sem considerar outros cultos igualmente lucrativos, como: a do Sto. Expedito, Nossa Sra. de Fátima, Sto. Antônio, São Francisco, além de outros ídolos, com destaque especial dessa pantomima carnavalesca e infeliz comandada pelo Padre Marcelo, e por sua “eminência reverendíssima”, o Bispo de Sto. Amaro. Cremos que isto seja suficiente para que se tenha uma noção da exploração astuciosa feita em nome da ingênua fé popular!

Mas o comércio não pára por aí. Existem, ainda, os grandes movimentos bíblicos e evangélicos, como a igreja universal do reino de Deus; a igreja Deus é amor; a igreja renascer; os mórmons, etc. que, a exemplo da igreja católica romana estão promovendo uma gigantesca negociata em nome de Deus!

Paralelo ao comércio religioso encontram-se as empresas esotéricas como a AMORC, por exemplo, e uma infinidade de escolas(???) e centros espiritualistas das mais variadas linhas filosóficas que também estão faturando alto, vendendo elevados conhecimentos esotéricos relacionados com os “Druídas”, os Essênios, com o Conde de Saint-Germain, com os altos iniciados do antigo Egito, da Índia e da Caldéia, além de poderes espirituais e iniciações a todos aqueles que são suficientemente tolos para acreditar nas suas arengas.

Causa espanto quando se observa o vergonhoso e sórdido comércio que tais empresas desenvolvem! O mundo nunca viu tantas pessoas interessadas na salvação das “pobres almas humanas”, como na atualidade!

Como já vai longe a época em que se faziam sacrifícios de animais para remissão dos pecados, não se vendem mais bois, ovelhas e pombas nos templos, os tempos mudaram; em compensação vende-se imagens de gesso, estampas coloridas (santinhos), velas, fitas, medalhas, terços, membros humanos de cera, pílulas com orações escritas em seu interior, que estão fazendo a fortuna dos “cambistas” e das organizações comerciais as quais eles pertencem!

Segundo a lei da analogia “o que está fora é semelhante ao que está dentro”, e isto faz supor que todo esse movimento comercial que está infiltrado nas coisas sagradas, não passa do reflexo de um estado de alma inconsciente e irresponsável, totalmente dominado pelo materialismo e pelo personalismo egoísta e astucioso, que viu nas religiões um meio fácil de controlar as massas e fazer fortuna.

O Templo Interior que, segundo São Paulo é o sacrário do Espírito Santo, foi ocupado pelos “cambistas e seus animais”, transformando-o num super mercado, que reflete no exterior toda a sua abominação e insensatez! A falta de respeito por Deus e por si mesmo é a principal causa da mercantilização que observamos nos movimentos religiosos. A rigor, o único deus que essa mentalidade utilitária respeita é “mammon”, o deus do dinheiro que confere glória e poder mundano!

É evidente que ao denunciar este estado de coisas, não vai da nossa parte a mínima intenção de acabar com ele, pois conhecemos muito bem a mentalidade que norteia os atos dos escribas e fariseus contemporâneos, bem como dos inventores de escolas e de filosofias espiritualistas.

Sabemos por experiência pessoal que o caminho do esoterismo é apertado e difícil, impossível, portanto, de ser percorrido por indivíduos de mentalidade pervertida, que fazem do lucro fácil a razão das suas atividades! Queremos, entretanto, deixar manifesto o nosso protesto, para que não se venha a dizer mais tarde que ninguém enxergou nada, ou que, sob o pretexto de não atacar nenhuma organização, estamos compactuando com este comércio sórdido e ilícito desenvolvido na atualidade.

O primeiro estágio da Iniciação Cristã começa com o batismo ou preparação psicológica (Metanóia), que dá início à purificação do interior do templo, a fim de expulsar os cambistas (idéias negativas) que constituem os “elementos psíquicos” carregados com Forças de Repulsão (animais), responsáveis pela mediocridade e baixo nível da mentalidade humana.

O estudante só poderá avançar, efetivamente, quando compreender e puser em prática as palavras do Salvador: “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai (Espírito) casa de negócio”.

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