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O Recipiendário

O Recipiendário

Eliphas Levi….

Mas, antes de tudo, quem sois vós que tendes este livro entre as vossas mãos e o começais a ler?

No frontispício de um templo que a antigüidade consagrara ao Deus da Luz, lia-se esta inscrição em duas palavras:

“Conhece-te a ti mesmo”.

Tenho o mesmo conselho a dar a qualquer homem que queira aproximar-se da ciência.

A magia, que os antigos chamavam sanctum regnum, o santo reino, ou o reino de Deus, regnum Dei, só é feita para os reis e para os padres; sois padres? sois reis? O sacerdócio da magia não é um sacerdócio vulgar e a sua realeza nada tem que debater com os príncipes desse mundo. Os reis da ciência são os padres da verdade, e o seu reino fica oculto para a multidão, como os seus sacrifícios e as suas preces. Os reis da ciência são os homens que conhecem a verdade e que a verdade os tornou livres, conforme a promessa formal do mais poderoso dos iniciadores.

O homem que é escravo das suas paixões ou dos preconceitos deste mundo não poderia ser um iniciado, ele nunca se elevará, enquanto não se reformar; não poderia, pois, ser um Adepto significa aquele que se elevou por sua vontade e por suas obras.

O homem que ama suas idéias e tem medo de as perder, aquele que teme as verdades novas e que não está disposto a duvidar de tudo, antes do que admitir qualquer coisa ao acaso, esse deve fechar este livro, que lhe é inútil e perigoso: ele o compreenderia mal e ficaria perturbado, mas fica-lo-ia ainda muito mais se por acaso o compreendesse bem.

Se estais preso por alguma coisa ao mundo, mais que a razão, à verdade e à justiça; se vossa vontade é incerta e vacilante, quer no bem, quer no mal; se a lógica vos espanta, se a verdade nua vos faz corar; se o vulgo vos tocando nos erros recebidos, condenai imediatamente este livro, e, não o lendo, fazei como se não existisse para vós, porém não o difameis como perigoso: os segredos que ele revela serão compreendidos por um pequeno número, e os que compreenderem não os revelarão. Mostrar à noite a luz aos pássaros, é ocultar-lha, pois que ela os cega e torna-se para eles mais obscura do que as trevas. Falarei, pois, claramente; direi tudo, e tenho a firme confiança de que só os iniciados ou os que são dignos de o ser, lerão tudo e compreenderão alguma coisa.

Há uma verdadeira e uma falsa ciência, uma magia divina e uma magia infernal, isto é, mentirosa e tenebrosa; temos de revelar uma e desvendar a outra; temos que distingüir o mago do feiticeiro e o adepto do charlatão.

O mago dispõe de uma força que conhece, o feiticeiro procura abusar do que ignora.

O diabo, se é permitido num livro de ciência empregar esta palavra desacreditada e vulgar, o diabo se dá ao mago e o feiticeiro se dá ao diabo.

O mago é o soberano pontífice da natureza, o feiticeiro não passa de um profanador.

O feiticeiro é para o mago o que o supersticioso e o fanático são para o homem verdadeiramente religioso.

Antes de ir mais longe, definamos claramente a magia.

A magia é a ciência tradicional dos segredos da natureza, que nos vem dos magos.

Por meio desta ciência, o adepto se acha investido de uma espécie de onipotência relativa e pode agir de modo que ultrapassa a capacidade comum dos homens.

Da obra “Dogma e Ritual da Alta Magia”

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